Os sentidos são nosso mecanismos para experienciar o mundo. O desenvolvimento de avanços tecnológicos voltados a novas experiências sensoriais estão acelerando cada vez mais, com novidades imersivas, como a Realidade Aumentada e a Realidade Virtual. E nós, designers, temos como objetivo projetar a melhor experiência possível por trás de nossos produtos. No entanto, nossa sociedade como um todo gira, principalmente, em torno da visão. E aqueles que não enxergam, quem projeta para eles?
O projeto "Touching Masterpieces" é uma exibição em VR desenvolvida pela Geometry Prague e NeuroDigital, trazendo virtualmente importantes esculturas para a Galeria Nacional de Praga. Uma exibição de museu que usa a tecnologia de Realidade Virtual para reproduzir obras de arte já é, por si só, algo inusitado e que chama atenção. No entanto, "Touching Masterpieces" é mais que isso: com luvas hápticas de Realidade Virtual, emite vibrações que permitem que cegos e pessoas com problemas de visão consigam tocar e "ver" as obras.
Ter um projeto sensorial, desse tamanho, projetado especificamente para deficientes visuais, é um marco de acessibilidade. Aqueles que geralmente são esquecidos, ganham uma experiência cultural própria e desenvolvida sob medida, já que, tradicionalmente em museus, não é permitido tocar nas obras.
Acredito que a tecnologia desenvolvida para esse projeto é inovadora e pode tanto potencializar outras interações de cegos e deficientes visuais, quanto ter seu uso potencializado.
"A estimulação de crianças cegas desde os primeiros dias de vida, é determinante para a otimização de seu desenvolvimento na idade escolar." diz Marcia Carletto, professora da Rede Pública do Estado do Paraná. Na fase pré-escolar de qualquer criança, dos 0 aos 5 anos, o desenvolvimento motor cognitivo é muito importante. Essa necessidade se faz prevalente em crianças cegas, que precisam do estimulo sensorial para desenvolver "funções motoras, de mobilidade independente, de apropriação dos mecanismos para a leitura tátil, e tantas outras habilidades que a criança que enxerga desenvolve somente por enxergar", comenta Carletto. Nessa fase, o estimulo tátil funciona como uma preparação para os estudos em braille.
O tato é fundamental para que as pessoas cegas possam recolher informações sobre o seu envolvimento e realizar tarefas diárias, quotidianas e académicas (WITHAGEN et al., 2011a apud LIBERTO; RIBEIRO; SIMÕES). Porém, o tato é o sentido do contato físico, da pele, e não só das mãos, como explorado no projeto "Touching Masterpieces". Sendo assim, as vibrações enviadas às luvas poderiam ser enviadas à uma roupa háptica, evoluindo a experiência e o aproveitamento do sentido. Além disso, experiências sensoriais estimulantes poderiam ser desenvolvidas para crianças cegas ou deficientes visuais, de 0 a 5 anos, aumentando a qualidade de seu ensino e percepção do mundo a seu redor.
O projeto "Touching Masterpieces" é, indubitavelmente, um grande passo no caminho da acessibilidade para deficientes visuais. No entanto, sua tecnologia não pode ser esquecida e deve ser explorada para melhorar ainda mais, as experiências sensoriais daqueles que não tem um dos sentidos mais explorados na nossa sociedade.
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